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Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho: home office e segurança

Especialistas afirmam que criação de uma carga horária específica e de ambientes ergonômicos evita acidentes laborais em casa. Estudo aponta aumento da modalidade no pós-pandemia

Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br

Imagem: Freepik

Celebrado nesta segunda (27), o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho levanta debate sobre impactos do atual momento sanitário nas relações de trabalho. Especialistas ouvidos pelo O Otimista afirmam que a pandemia acentuou a necessidade de criação de políticas mais específicas para profissionais atuantes na modalidade de teletrabalho.

“A pandemia mostrou que se faz necessária uma regulamentação mais específica para saber o que pode ser definido como acidente laboral. Esta é uma discussão que ganhou força nos últimos meses”, explica o engenheiro de segurança do trabalho, Igor Arcanjo.

O ambiente domiciliar, entretanto, não está livre de possíveis acidentes, e, segundo o engenheiro da Divisão de Engenharia e Segurança do Trabalho da Universidade Federal do Ceará (DESMT/UFC), merece atenção por parte dos empregadores e funcionários. “Para efeito jurídico, todo acidente sofrido, mesmo que fora do ambiente de trabalho, ocorrido no período de expediente pode ser considerado acidente laboral”, acrescenta.

“É necessário saber, nos casos de home office, se não houve desvio da função e se o acidente ocorreu durante a execução de alguma atividade doméstica. Nestes casos, é preciso que haja uma comprovação”, esclarece Wagner Gonçalves, médico do trabalho do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh.

Na retomada, conforme Arcanjo, podem ocorrer acidentes na adequação ao “novo normal”. “Muitos profissionais estão vivendo jornadas híbrida. Outros com deslocamento até o local de trabalho. É preciso estar atento também a essa nova dinâmica”, endossa. O trabalho remoto, ou teletrabalho, passou a ser reconhecido legalmente no Brasil no final de 2017.

Organização é a base
Gonçalves chama atenção para a importância de seguir uma rotina de trabalho clara e objetiva para evitar sobrecargas e possíveis acidentes ou lesões. “É fundamental ter um ambiente ergonômico, com uma mesa adequada, cadeiras reguláveis, em proporções que levem conforto ao funcionário.”

A empresa contratante, segundo Arcanjo, deve estabelecer protocolos e treinamentos para que o funcionário se adeque à logística do teletrabalho, fornecendo, caso necessário, o aparato a ser utilizado para a execução plena das tarefas. “Outro fator fundamental é saber distanciar o ambiente de trabalho do contexto domiciliar, tarefa complicada para quem tem filhos que ainda não puderam retomar as aulas por conta da pandemia”, pondera o engenheiro.

O médico do trabalho afirma que doenças ósseo musculares são as mais comuns durante o trabalho remoto, provocadas, principalmente pela repetição de movimentos e má postura. “É possível também que a situação da covid-19, a perda de parentes, amigos ou o distanciamento social tornem os funcionários susceptíveis a doenças psicológicas”, completa Gonçalves.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda a adoção de modalidades de trabalho flexíveis durante o período pandêmico, como forma de resguardar a vida dos trabalhadores. O órgão chama atenção, ainda, para a necessidade de reforçar medidas de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), além da aplicação de políticas contra a discriminação e exclusão de funcionários que não tenham condições de se adequar à modalidade remota.

Pesquisa diz que estruturas físicas de trabalho mudarão no pós-pandemia
André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), realizou o estudo Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios para entender quais serão os impactos causados pelo novo coronavírus nas estruturas sociais de trabalho.
A pesquisa mostrou que o número de empresas que pretendem adotar o home office após a crise da covid-19 deve crescer 30%.

De acordo com o estudo, Miceli explica que o momento de instabilidade da pandemia lança luz sobre a necessidade de ações flexíveis nas estruturas organizacionais e modelos corporativos. Os líderes, segundo a referida análise, deve concentrar esforços para estabelecer uma comunicação centralizada em canais específicos, com o intuito de estabelecer instruções claras sobre a dinâmica dos procedimentos, para que a rotina dos clientes, consumidores e colaboradores não sofra tantas mudanças. A pesquisa levou em conta as respostas dos gestores de 100 empresas.

Entre 2012 e 2019, levantamento realizado pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostrou que o Brasil registrou um acidente de trabalho a cada 49 segundos e uma morte decorrente dele a cada três horas e três minutos. Entre as causas mais recorrente estão acidentes de trânsito, inutilização de equipamentos de proteção adequados e queda de alturas.

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